
PLANO (DE) NOVO
Assistindo aqui vários trechos da audiência pública da revisão do Plano diretor de São Paulo, ocorrida ontem.
Não pude ir pois estava em uma outra audiência, de um PDE de outra cidade…
Estou vendo coisas muito boas sendo ditas. Bem importantes. E também boas respostas.
No entanto, há dois modos de analisar a questão.
(Como digo, sempre há duas maneiras e, se há duas, então são três, no mínimo)
Um modo é admitindo como válido e “correto” o partido adotado, o modelo de Plano e, portanto, de cidade que se pretende perpetuar e sobre a qual se está repactuando. Um modelo que leva, necessariamente, a uma política de repressão, contenção e simples redução de danos.
Hoje, a grande conquista, a grande evolução neste tema está na explicitude da correlação de forças que produz produz cidade e, principalmente, na explicitude da desigualdade que a caracteriza.
Outra grande conquista é a possibilidade de voz para agentes produtores da cidade que são completamente minoritários nesta correlação de forças, mas se alicerçam e se escudam em sua legitimidade, ainda incipiente, capacidade de mobilização.
O segundo modo é entender que a questão central não está no plano, mas está no partido de projeto, no modelo de cidade que se pretende e sobre o qual se deseja construir o pacto, se deseja pactuar.
Para isso, há que se consolidar uma nova correlação de forças mas, antes de tudo, há que se explicitar qual é o modelo alternativo de cidade, desde seus conceitos fundamentais até os instrumentos de gestão e governança, visto que São Paulo trabalha e se implanta sobre o mesmo modeloí, com rigor e eficácia, há noventa anos, quase um século.
Claro, tudo isso passando pela definição de diretrizes claras de superação do monstruoso passivo e da perversa e desumana desigualdade produzidas pelo ocaso do modelo vigente, que se tornou um cadáver insepulto.
Além do adiamento na revisão, que não controlou danos, os potencializou, este tem sido o ponto frágil até aqui: o não reconhecimento e a não explicitação desta dicotomia.
E, certamente, a indicação, com toda clareza, de que nesta nossa cidade nem um, nem outro caminho são possíveis em sua totalidade.
Na melhor das hipóteses, seria o terceiro caminho, o que buscaria agir de forma holística e humanista sobre a cidade, ao invés de insistir em enxugar gelo em tentativas quixotescas de controlar um único agente, o mercado imobiliário.
E, neste caminho, da construção da cidade para as gentes, levar em conta sua multiplidade e sua diversidade.
Levar em conta a cidade existente visível e consolidada, a dita ‘de bem’ (objeto do plano atual), a cidade invisibilizada, ignorada, a cidade real (a soma das duas anteriores) e a(s) cidade(s) desejada(s).
Este é o caminho da sustentabilidade, econômica, social, ambiental.
Porem, este, o cincoentenário zoneamento não deixa, e não vai deixar tão cedo.
Ademais disso, é controlar os danos, assumir o plano para a cidade intra muros, digo, entre rios e se preparar para discutir, em 2029 o plano (de) novo.
Sigamos!!
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