Nem todos sabem que PETRÓPOLIS é uma cidade que, como Brasília, foi planejada. Abaixo, pode-se ver o desenho urbano segundo Otto Reimarus (1856), que serviu de padrão para a ocupação urbana de Petrópolis.

Para início de conversa, Petrópolis deveria ter sido fundada onde hoje é Itaipava, onde chove METADE da quantidade de chuva anual. Por causa do efeito orográfico, os ventos úmidos que vêm do mar se chocam com a serra, se condensam e a chuva vem em grande quantidade. Foi o que aconteceu na presente tragédia, os bairros mais atingidos foram os mais próximos à borda da serra. Em Itaipava, 30 km para o interior, não caiu uma gota sequer, disseram…
Reza a lenda que Pedro I queria comprar as terras da Fazenda do Padre Corrêa, em Corrêas, caminho à Itaipava, onde já chove menos, mas, diante da recusa da venda, o soberano, muito tolerante e democrático, comprou a “fazenda ao lado”, ironicamente chamada a Fazenda do Córrego Seco, que abrange hoje o centro de Petrópolis e arredores.
O Major Koeller, um militar teuto-brasileiro que serrvia à corte, criou um plano que atendia aos interesses exclusivistas e elitistas do Imperador, que desejava criar uma cidade-refúgio para a elite do Rio de Janeiro, onde a peste e a sujeira grassavam por todo lado. Pretendia-se criar uma “cidade perfeita”, que pairasse acima dos extratos “inferiores”. Por isso, Petrópolis foi pensada em termos de círculos concêntricos, onde a nobreza ocuparia o centro, em torno do Palácio Imperial (hoje Museu Imperial), e para isso o Imperador DOAVA os prazos (os terrenos) para os membros da nobreza, de modo a assegurar que ninguém “menos nobre” viesse a ser vizinho dos “cidadãos de bem” da época.
Nesse desenho, as demais classes sociais que vieram para a nova cidade, os imigrantes italianos, alemães, etc. viriam a ocupar a periferia desse círculo, nos chamados “quarteirões coloniais”.
E os anos, as décadas, os séculos foram passando e, como sói acontecer, o planejamento urbano vai para o espaço para dar lugar à desordem urbana, consequência direta da ausência de políticas públicas concernentes à segurança e à racionalidade em relação à ocupação da terra.
Já no século XX, falava-se, os pobres de Petrópolis, iam bater à porta do “Príncipe” para que ele, dono da terra através do maquiavélico sistema de laudêmio, se dignasse a doar alguns poucos metros de terreno, para que pudessem erguer, à custa de grandes esforços e sem nenhuma supervisão, suas casas. Na maioria, tais terrenos se situavam onde ninguém gostaria de morar, as encostas íngremes, que então eram desmatadas para dar lugar a construções precárias e sem nenhum planejamento.
O que se vê hoje em Petrópolis é o resultado dessa ocupação, filha da desigualdade social. As encostdas, que deveriam ser preservadas com floresta, de modo a absorver a água que desce do céu, foram ocupadas por construções que obliteravam a absorção da água pluvial.
Virou um padrão. Fileiras de casas, umas em sequência das outras, ao longo das encostas, em terreno pobre de florestas. Quando a terra desce, leva toda a fileira de casas abaixo, umas sobre as outras.
Tragédia. Sim, tragédia que se repete e não tem solução fácil. Mas, se houvesse, ao menos, um plano de evacuação das casas em tais áreas de risco, a tragédia humana teria sido muito menor. Iriam-se os anéis, mas preservar-se-ia os dedos.
Até quando não haverá vontade política para preservar vidas, apesar do cenário urbano desfavorável?
Petrópolis, cidade-modelo para os nobres, é hoje também uma cidade-modelo, como várias outras no Brasil, para demonstrar como não se deve ocupar a terra.
Aluysio Robalinho via facebook
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